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Caves dos sonhos esquecidos II - Lacuna
James Newitt e Max Fernandes, curadoria de José Almeida Pereira
05.01 > 02.02.2019 Artes - Porto

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Gota-luz 14:25 (2018)

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Horizontal, vídeo em loop

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Projeção do filme Narciso de todas as espécies.

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Gatinhos, vídeo em loop (2018)

Em 2010 saiu nas salas de cinema um dos muitos filmes de Werner Herzog, com o título "Cave of forgotten dreams". Esta estreia coincidiu com um tempo em que os sonhos dos portugueses teriam de ser revistos de modo a não se tornarem pesadelos.
Este filme trata da visita e análise a uma gruta em França que parece conter das pinturas rupestres mais antigas até agora encontradas. Foi o primeiro e único filme que Herzog realizou com uma câmera de duas lentes, mais conhecida por produzir filmes para visualização 3D. A decisão partiu da primeira deslocação que o realizador fez à gruta. Seria a melhor solução para oferecer ao espectador o sentido daquilo que provavelmente nunca poderá assistir ao vivo (a gruta está estritamente proibida a visitas, apenas técnicos e especialistas têm acesso, uma ou duas vezes por ano, de modo a preservar o seu habitat).
O que se vê é uma viagem pelas maravilhas da arte dos primeiros homens. A elegante manipulação dos meios disponíveis para registar nas paredes as suas visões. Ao longo do filme vamos percebendo que as mentes que projectaram aqueles registos eram refinadas e completas. Não há nada ao longo da história da humanidade que tenha superado aquela consciência, pois o sentido das formas, o movimento, o tempo de intervalo das figuras está soberbamente ajustado às qualidades das pedras que acolhem aquelas marcas.
A arte ainda hoje se faz de um modo equivalente. Nas "grutas", sendo reais (caves, estúdios, salas) ou alegóricas (computadores portáteis, salas de reunião, cafés, aviões), o que prevalece é essa disposição em transe, esses momentos em que nos despimos das funções do quotidiano e deixamos os sentidos navegar pelas notas livres da realidade até escutarmos as ondas que nos são síncronos.
Este foi o mote para um conjunto de exposições que são realizadas por pares de artistas, proóximos pela partilha de ideias e ilusoões em relação ao espírito da arte. Depois da exposição que colocou em diálogo os monocromos a grafite sobre papel e lixa de água de Paulo Lisboa, e as pedras/esculturas/assemblages de Cristina Regadas; nesta segunda exposição, com James Newitt e Max Fernandes, são apresentados trabalhos de dois artistas que se dedicam preferencialmente à imagem em movimento. Os filmes de ambos, apesar de temáticas bem distintas, interceptam-se em algumas coincidências formais, e na manifestação de hiatos, quer sejam eles simbólicos, no caso de Newitt, quer sejam sociais e urbanísticos no caso de Max. As suas intervenções expandir-se-ão à intervenção sonora e gráfica, num diálogo direto com as características espaciais do espaço A_artes.

José Almeida Pereira

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