À volta
4:42 (2014)

A partir de um momento do despertar, numa época obscura, tudo à volta está moribundo.

Que bonita a imagem!
É quase alegórica e expressonista, esta(s) imagem(ens) da chaminé inclinada.
As ligações estão muito bem, e depois fazem o próprio "fumo" da fábrica, apercebo-me no final. Insisto que a imagem é belíssima e sedutora.
É tudo um entardecer, a cor, o conteúdo da escrita (reforma, desemprego), e com uma composição romântica - uma pintura do Turner.
E tudo se contrapõe ao piscar das pré-definições do vídeo sobre os hipotéticos conteúdos das filmagens amadoras. Esse piscar ritmado - festas, celebrações, família etc. Essa mecanização da vida, ou antes, esse ritmo da vida, as suas etapas mais marcantes, segundo as convenções, que estam mesmo já interiorizadas nessa grande prova da existência que é o filme. O filme que comanda a vida. Que pede à vida que o preencha.
Só parece mesmo restar o tempo do lazer, o lazer compactado no registo por temas pré-definidos na câmara de vídeo, esse lazer que não basta vivê-lo, tem de ser registado. Mas haverá condições para corresponder ao que a câmara pede - filmar esses temas, e para isso poder vivê-los? E os sinos dão inícioá escrita e ao filme, e marcam o fim da escrita, nesse som ambiente de fim de tarde que a imagem evoca, ou será a aurora?
(...)

Escrito por e-mail a 20.05.2014 por José Almeida Pereira.

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